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Departamento de PEDIATRIA Área – Cirurgia Pediátrica
Prof. Lionel Leitzke
e Adyr V. Faria

CIRURGIA PEDIÁTRICA NO APARELHO UROGENITAL - I

Fimose & Parafimose & Balanopostite

Definições

Etiologia

O prepúcio já é evidente com 8 semanas de vida fetal, e com 16 semanas envolve totalmente a glande. Um processo de descamação progressivo forma o espaço prepucial, de tal modo que ao nascimento só 5 % dos RN tem o prepúcio totalmente retrátil, mas 15 % aos 6 meses, 50 % aos 12 meses e 90 % aos 3 anos de idade.

Fisiopatologia – Balanites e/ou Balanopostites de repetição

Epidemiologia - postites são freqüentes , mas tratamento cirurgico da Fimose só será necessário em 2 a 6 % dos meninos

Manifestações clínicas

Exames complementares – E.Q.U. e Urocultura nos casos de balanopostites

Diagnósticos diferenciais – reveja as definições !

Terapêuticas

- Postites de repetição
- Parafimose
- I.T.U. por Refluxo Vésico-Ureteral ou Hidronefrose
- Incontinência Urinária 2aria a acentuado retardo neurológico ou lesão medular

=> Circuncisão – avaliar os Riscos versus Benefícios

Recursos preventivos - higiene adequada, sem forçar nem massagear

Prognóstico – em 90 % dos meninos ocorre o descolamento espontâneo até os 3 anos

 

Bolsa escrotal vazia

(Criptorquia, ectopia testicular, testículos retráteis, anorquia)

Definição - Distopia testícular é o posicionamento anômalo do(s) testículo(s) .

Epidemiologia – a incidência de meninos com testículo fora da bolsa escrotal é de :

=> 5,9 % ao nascimento
=> 1,6 % aos 3 meses de idade
=> 1 a 3% com 1 ano de idade
=> + frequente a direita
=> 10 – 25 % são bilaterais
=> 12 – 15 % tem história familiar

Etiologia

Manifestações clínicas

=> É o tipo mais freqüente de distopia testicular
=> Também denominado Criptorquidia ou Testículo retido.
=> Pode ser: intra-abdominal, canalicular, inguinal superficial ou "Vanishing testis"

Diagnóstico e diagnósticos diferenciais - vide acima !

Medidas terapêuticas

O testículo fora da bolsa escrotal pode ser causa de :

O tratamento pode ser:

Complicações – próprias da Anestesia e da Cirurgia

 

Escroto Agudo

Definição - "Escroto Agudo" é um termo genérico que caracteriza uma entidade clínica com aumento de volume doloroso do testículo, acompanhada de hiperemia cutânea, e ocasionalmente de febre, disúria, náuseas e vômitos.

É considerada uma emergência cirúrgica pelo risco da "Torção do Cordão Espermático" (impropriamente denominada "Torção de testículo" ) podendo causar isquemia aguda e necrose do testículo e ainda, possíveis reações imunológicas que levam a infertilidade e alterações inclusive, no testículo contralateral. Portanto, na suspeita de torção há necessidade de pronto diagnóstico e tratamento cirúrgico imediato para permitir a sobrevivência da gônada e sua funcionalidade.

A necessidade da agilidade diagnóstica e terapêutica nunca serão suficientemente enfatizados nos casos de "Torção de Testículo". A conscientização da população em geral da existência desta doença é necessária para a prevenção de suas graves conseqüências quando retardado seu tratamento.

O diagnóstico tardio, infelizmente, ainda é comum pois a criança relaciona a dor e os demais sinais inflamatórios com algum trauma escrotal e temendo uma reprimenda, esconde o fato de seus pais. Ocasionalmente, os próprios pais acreditando num possível trauma não procuram atendimento médico nas primeiras horas do Escroto Agudo.

Etiopatogênia - as quatro causas de Escroto Agudo são:

Outras doenças que podem simular um Escroto Agudo são:

Manifestações clínicas

Na TCE o testículo sempre estará edemaciado, aumentado de volume e doloroso.

Faixa etária - Podem ocorrer Torções do cordão espermático em qualquer idade mas os picos de incidência para as diversas causas de Escroto Agudo são:

Figura 1. Tipos de torção do cordão espermático (TCE) A = Extravaginal B = Intravaginal

Manifestações clínicas - em neonatos e lactentes

Manifestações clínicas na infância e adolescência

 

TATE

TCE

Epididimite

Edema escrotal idiopático

Etiologia

Resquícios do ducto de Müller

Testículo em badalo,

Criptorquia

Infecção urinária

Alérgica

Pico de Incidência – Faixa etária

8 aos 14 anos

Neonatal e dos

10 aos 16 anos

12 aos 18 anos

4 aos 10 anos

Intensidade da hiperemia e do edema

+

+++

++

+++

(pode ser bilateral)

Intensidade e

Localização da dor

+

(no polo superior)

+++

(em todo testículo)

+

(no polo superior)

+

(em todo escroto)

Testículo elevado e

Horizontalizado

Raro

Freqüente e pode ser bilateral

Raro

Raro

Reflexo cremastérico

Normal ou diminuído

Ausente

Ausente ou diminuído

Normal ou diminuído

Sinal de Prehn

Sem variação significativa ao elevar o testículo

Aumento da dor ao elevar o testículo

Alívio da dor ao elevar o testículo

Sem variação significativa ao elevar o testículo

Ponto azul no polo superior do testículo

Pode ser visível

Não

Não

Não

Ecografia com doppler colorido

Fluxo vascular do testículo normal ou aumentado

Fluxo vascular do testículo ausente ou diminuido

Fluxo vascular do testículo normal ou aumentado

Fluxo vascular do testículo normal ou aumentado

Tratamento

Clínico e/ou Cirúrgico

Cirurgia Urgente com orquipexia

contralateral

Clínico

Clínico

Exames Complementares

Infelizmente, na imensa maioria dos pacientes com Escroto Agudo não é possível ter certeza do diagnóstico somente com a história e o exame físico. Na dúvida quanto à etiologia do Escroto Agudo é essencial enfatizar a rápida evolução da necrose testicular nos caso de TCE. Nessa situação, a cirurgia nunca deverá ser postergada pela realização de um exame complementar exceto, quando a história e o exame físico já tenham praticamente afastado a hipótese de TCE e os exames estiverem prontamente disponíveis.

A ecografia testicular com doppler colorido pode avaliar a perda do fluxo vascular testicular nos casos de TCE. Mas deve ser lembrado que existe uma baixa incidência de resultados falso-negativos nas primeiras horas de TCE e nos testículos pequenos, induzindo o médico a manter tratamento clínico, e ocorrendo a necrose do testículo.

Tratamento

No caso da exploração cirúrgica mostrar que a causa foi uma TATE, retira-se o apêndice, mantendo-se o uso de analgésico ou anti-inflamatório não esteróide por no máximo 72 horas. E, se for um epididimite mantém-se antibioticoterapia, independente do resultado do E.Q.U. e da urocultura, com posterior investigação por imagem do trato urinário, caso o paciente ainda não a tenha realizado.

Complicações pós-operatórias

 

Hipospádia

Definição

É uma malformação congênita que se caracteriza pela localização ectópica do meato uretral externo, em diferentes níveis da face ventral do pênis. Raramente pode ocorrer a ectopia do meato uretral na menina.

Epidemiologia – 1: 500 meninos

Embriologia

Entre a 7ª e 14ª semanas ocorre o crescimento do corpo genital e a formação do tubo uretral com o fechamento do sulco pelas pregas uretrais. A uretra glandar forma-se por uma invaginação epitelial em forma de tubo que se une a uretra peniana ao nível da fossa navicular.

Etiologia

Fatores diversos influenciam, como o genético (Ex.: Sindrome de Reifenstein) e o hormonal ( Ex.: déficit de 5-alfa-redutase, ou falta de receptores androgênicos a nível celular). O encurvamento distal persistente (chordee) é devido a falta de desenvolvimento normal do corpo esponjoso.

Diagnóstico e diagnósticos diferenciais

É necessário avaliar:

Exames complementares

Sempre realizar pesquisa de malformações urinárias associadas ( no mínimo Ecografia abdominal + Uretrocistografia Miccional ) quando:

Medidas terapêuticas

O ideal é realizar a correção cirúrgica entre 6 e 18 meses de vida, ambulatorial, em tempo único, após estímulo hormonal ( s/n), e após minunciosa explicação para a família ( e o paciente, se > 2 anos)

Complicações

Prognóstico - Varia conforme o grau da hipospádia, a experiência do cirurgião, a idade da(s) cirurgia(s), e o apoio psicológico

 

Anomalias do desenvolvimento do sexo

Definição

É "Genital incompletamente desenvolvido" e NÃO "Genitália Ambígua" ou "Intersexo".

Incidência

Etiologia

A diferenciação sexual básica é feminina., e se não houver nenhum fato que iniba o desenvolvimento dos ductos de Müller (Ex: SRY, testosterona, hormônio antimülleriano) a diferenciação será feminina. Mas a deleção de qualquer porção do cromossomo X já leva à falha no desenvolvimento dos ovários. Para a formação do fenótipo masculino com diferenciação das gônadas bipotenciais em testículos há necessidade do gene TDF ( Fator de Diferenciação Testicular ou SRY ) + interferência de diversos fatores ( hormonais ou não). Ex: Gonada bipotencial + SRY à diferencia-se em testículo, iniciando produção do MIS (Hormônio inibidor dos ductos de Müller) e testosterona ( a qual estimula o desenvolvimento dos ductos de Wolff) e por ação da 5-Alfa-redutase a reduz em DHT (dehidrotestosterona) que é responsavel pela virilização da genitália externa

Fisiopatologia

Uma falha cromossômica, hormonal ou na resposta da gônada embrionária ao estímulo do LH ou do HCG, ou insensibilidade dos receptores periféricos ao estímulo da DHT.

Manifestações clínicas – pode variar de :

Normas para diagnósticos diferenciais

  1. É uma emergência a adequada designação do sexo no RN portador de ambiguidade genital.
  2. Registro no cartório e anúncio do sexo do RN são postergados até a definição do sexo de criação.
  3. Nunca sugerir ou permitir nomes ambíguos ou cuja ultima vogal possa ser trocada s/n.
  4. Investigar ingesta materna de drogas potencialmente virilizantes ou feminilizantes ( entre 8 – 12 semanas de gestação)
  5. Examinar o RN na presença dos pais, explicando com desenhos e evitando o uso de nomes que já definam um sexo específico. Ex.: pênis ou clítoris X falo, testículo X gônada
  6. Além de um exame detalhado dos genitais observar grau de hidratação, pilificação corpórea, pressão arterial e a existência de outra malformações.
  7. Exames essenciais: Cariótipo, Ecografia abdominal e da gonadas externas, 17 ?-OH
  8. Reconhecer no mínimo 5 diferenciações sexuais: Genético, Gonadal, Fenotípico, Psicológico e Social

Medidas terapêuticas

É essencial contar com uma ótima e experiente equipe multidisciplinar ( neonatologista, cirurgião pediátrico, geneticista, endócrinologista pediátrico, ecografista, psicólogo, ...)

Recursos preventivos = orientação genética aos familiares


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Atualizado em Março/2004